segunda-feira, 12 de setembro de 2011





O dia havia amanhecido para Alice com gosto de luto. Aquela sensação esmagadora no peito, sufocando esperança, sentimentos, cores da vida. O dia havia amanhecido, literalmente, cinza.
Se arrastou pela casa, solitária, tomou café por rotina e obrigação. Luto misturado à ressaca emocional de algo sem causa aparente invadiam a casa pelas portas e janelas.
A sensação de ter que começar tudo de novo, mais uma vez, a obrigatoriedade de ter que continuar sem fraquejar, de provar a si e aos outros que podia estava cada vez mais exaustivo. Como era pesado carregar o mundo.
Mais pesado ainda era não ter o que fazer, era o conformismo que predominava, não pela falta de luta, mas pela falta de escolha. Não havia o que fazer. Ou continuava seguindo em frente ou abandonava tudo.
Ao fim da tarde Quixote apareceu.  Alice fazia de tudo para sustentar os problemas sem deixar transparecer. Mostrar pra que? Não haveria nada que ele pudesse fazer.
Mas não deu certo. Perto da hora de Quixote partir, Alice fraquejou. Chorou, chorou muito, sem fazer barulho, sem respirar.
- Alice, eu estou aqui com você!
- Eu sei que está Quixote. Mas você vai embora.
- Mas eu sempre volto.
- Você não entende? Não é questão de voltar sempre. É a questão de precisar sempre ir!
- Mas eu vou pra depois voltar.
- Só que o mundo gira Quixote...
- Tá, e daí?
- Daí que ele nunca para de girar...

quarta-feira, 10 de agosto de 2011



Alice acordou cedo, morta de fome. Olhou no relógio, ainda eram 5 horas da manhã. Plena madrugada. Com muita resistência em levantar, pois estava morrendo de sono e sua cama estava deliciosamente confortável, perambulou pela casa com as luzes apagadas até a cozinha em busca de algo para comer.
Chegando lá, observou que em cima da mesa havia um único pedaço de bolo. O pegou e foi comendo pelo caminho até sua cama, a qual deitou e dormiu por mais algumas horas.
Quando acordou, o dia estava ensolarado e limpo. Com tantas coisas pra fazer, pensou que seria uma pena desperdiçar aquele dia lindo com afazeres, mas alguns sacrifícios precisam ser feitos se queremos obter resultados. Resolveu então sacrificar o dia, tinha muito que fazer.
Quixote apareceu e foi até o quarto. Percebendo que Alice não estava, retornou para o jardim.
Ela o viu passar e não cumprimentá-la, entretanto imaginou que poderia estar distraído pensando em seus afazeres. Quixote também tinha muito que fazer durante aqueles dias, e sempre que Alice podia, conversava com ele sobre isso, ajudava a tomar decisões entre outras coisas.
- Olá Quixote! – Disse Alice sem obter resposta. Estranhou mas deixou passar, ele andava tão preocupado que era compreensível sua distração.
Quixote então começou a trabalhar em seu novo projeto pelo jardim e Alice ficou a observá-lo.
- Quer ajuda? – Outra vez Alice não conseguiu resposta alguma.
- Quixote! Estou falando com você! – E nada dele demonstrar ouvi-la.
Estranhando sua distração, Alice foi chegando perto dele e notou então como estava diferente.
Ela estava pequena! Do tamanho de uma formiga! Haveria sido culpa do bolo ou Quixote realmente não a notava por estar absorto somente em suas preocupações?
E como faria Alice então para ser notada por ele? E ele não havia nem sentido a falta dela... Em outra ocasião ele no mínimo a teria procurado! Uma mistura de sentimentos envolviam Alice.
Se sentia indefesa, incapaz, completamente esquecida. Estava triste e com raiva.
Foi quando teve uma idéia. Se aproximou de Quixote e mordeu-lhe a perna. Devido à dor, Quixote gritou e a jogou longe, machucando-a.
- Malditas formigas! – resmungou Quixote esfregando a perna para amenizar a dor.
Quixote não a via. Nem na sua tentativa de ser notada. Às vezes, ferimos alguém sem querer, apenas para dizer-lhes que estamos ali, que queremos ser vistos, notados, e quando tentamos de outra forma e falhamos, apelamos. Estamos pedindo para ser amados e cuidados.
Hey Quixote, você poderia me ver? Poderia cuidar de mim sem eu pedir?
Poderia... ?

domingo, 31 de julho de 2011



Alice estava sentada no galho de uma árvore admirando as estrelas. A noite estava fresca, propícia para ser admirada. Quantas estrelas tinha o céu, e como brilhavam! Tão reluzentes quanto os olhos de Quixote.
Haviam passado bons dias, estavam em sintonia novamente, total e plena, envolvidos em uma completude de dar inveja! Nada mais importava, apenas eles mesmos, e naquela ocasião, o céu e suas estrelas.
Quixote escalou até o galho onde Alice estava e se sentou ao seu lado. Tocou de leve sua mão e ela retribuiu com um sorriso leve.
- Nenhum brilho delas se compara ao seu – disse Quixote olhando pra ela fixamente.
Alice corou e riu – Todo bobo...
- Tenho direitos tá? Estão no nosso contrato!
- Contrato? Que contrato? Não me lembro de nenhum...
Quixote ria com a inocência de Alice e ela parecia gostar da brincadeira. Apesar de viverem em um mundo completamente diferente, conseguiam criar mais mundos dentro deste mesmo mundo. Coisa de Alice e Quixote.
Entretanto, de repente, Alice desfez o sorriso devagar e sua face pareceu preocupada, até mesmo triste. Fitava os pés e a altura a qual estava. Quixote percebendo, tocou novamente sua mão e a olhou seriamente, como se esperasse uma explicação.  Alice no entanto, apenas o olhou nos olhos e dando um sorriso triste, voltou a olhar para os próprios pés.
- O que foi? – Indagou Quixote preocupado.
Alice não respondeu, mas deixou escapar pesadas lágrimas. Tentou enxugá-las com rapidez, mas a luz da lua iluminou seu rosto de relance acusando a Quixote que ela chorava.
- O que foi Alice? Não vai me contar por que chora?
Alice continuou em silêncio.
- É por que vou embora?
Alice apenas suspirou.
- Eu também queria ficar, ou melhor, queria levar você comigo.
- Queria que você ficasse, queria ir com você. Não pode mesmo ficar?
- Estou fazendo o possível para isso...
Mais algumas lágrimas pesadas rolaram. Não havia o que pudesse ser feito, estava fora de alcance. Até poderia parecer um exagero tendo vista que o mundo de Quixote era vizinho do de Alice, mas só quem sente sabe o quanto dói uma saudade. ..

terça-feira, 5 de julho de 2011






Alice andava chateada. Os tremores, aqueles malditos tremores que pareciam não passar nunca! Acalmavam durante alguns dias, mas depois vinham com o dobro de força e tudo o que Alice reconstruía enquanto ele cessava, tornava a ficar destruído. Aquilo tudo estava mesmo muito cansativo.
Quando não agüentava mais, chorava igual criança pequena e ficava aos soluços. Depois tinha sonhos esdrúxulos quando adormecia, e acordava aos pulos de madrugada, sem ninguém pra abraçar. 
E quando vinham os pesadelos então?!
Pra esses, ela nem precisava dormir. Eles estavam por toda a parte, vinham aos montes, às vezes mais de um ao dia, o que só a deixava ainda mais cansada.
Tudo o que ela queria era alguém que percebesse seu estado, a abraçasse forte e a fizesse se sentir segura. Mas talvez, isso fosse pedir demais...
A verdade é que no fundo ela estava só, e sabia disso. Talvez fosse necessário alguém que realmente a conhecesse, que soubesse lidar com ela, com seus imprevistos.
Alice é uma garota imprevisível. Não é para qualquer um.
Entretanto, pecava ao criar expectativas demais sobre as pessoas. Principalmente sobre aqueles que ela mais amava.
Amar não é fácil. Amar é se permitir fazer sofrer pelo outro e ainda assim continuar amando.
Mas às vezes, pairava a duvida: Será que valeria a pena tanto sofrimento?
Talvez fosse necessário alguém que estivesse na mesma sintonia que ela, alguém para compartilhar idéias, alguém que não fosse necessário se explicar sempre...
Um querer difícil...
Complicada como ela, querer alguém com estes atributos, era realmente, querer demais...
- “O sofrimento é certo para mim. Será eterno. Eu não me contento com o pouco e ainda busco o inimaginável. Achei tê-lo encontrado uma vez, mas agora parece que se perdeu, que não fala mais a mesma língua que eu. Só sabe me fazer promessas vagas... Sei que sou exigente, quero demais, exijo demais, vivo demais. E se isso me fizer viver com a solidão, então que ela venha e me lamba a face mais uma vez. Talvez ela seja mesmo a minha melhor amiga, meu cão guia... Ela não me promete nada! Quando quero alguém pra conversar, ela está lá... Para sair? Ela está lá. Para chorar? Ela está lá. Tal qual a morte, surda, que me ronda dia a dia, e eu não sei a hora que virá me beijar...”

quarta-feira, 8 de junho de 2011


Às vezes, mesmo sem querer, existem coisas no dia a dia, comportamentos, tanto seu como meu, que me repelem pra longe de você.
Às vezes eu tenho a impressão que meu barco ancorou no seu porto, mas não existe âncora para mantê-lo preso e eu tenho que ficar segurando a corda dele, para que possa então continuar afixado aqui, junto com você, enquanto você observa sem saber o que fazer.
Só que as vezes também é muito difícil continuar segurando esta corda, deste barco sozinha.
A corda é grossa, machucam minhas mãos, o barco chacoalha com a maré e quer ir para longe, enquanto eu utilizo de toda a minha força para fazê-lo ficar. Se algo nele quebra, eu preciso dar um jeito de consertar e ter esperanças que ele não vá se afastar do seu porto, por que você não sabe se pode segurar a minha corda ou não.  Você era mais decidido antes, o que aconteceu?
Às vezes tenho vontade de soltar de vez essa corda, e ver aonde meu barco me leva... e sei que vai ser incrivelmente neste momento que você vai se tocar que se não segurar a corda, vai me perder talvez para sempre. 
Mas aí... aí pode ser que eu diga que não é mais necessário segurar a corda, e que eu desejo realmente partir. 

quinta-feira, 19 de maio de 2011





Por mais que eu more no País das Maravilhas e tenha Quixote comigo, o amor da minha vida, que me completa e agüenta minhas loucuras, as vezes tenho uma sensação de incompletude tão grande, que só consigo extravasar com choros baixinhos na noite por qualquer motivo que me faça sentir mais vulnerável.
É como se eu ainda não tivesse encontrado um sentido pra minha vida, como se não tivesse realizado todos os meus sonhos. Tem tanta coisa que eu gostaria de fazer, lugares pra visitar, livros pra ler...
Sinto uma saudade enorme do meu passado, das pessoas que eu conheci e que por força maior tive que deixar pra trás. Parece que todo o sentido da minha vida ficou nas mãos delas e agora já não sei mais o que fazer para resgatá-lo.
Sinto uma solidão, um peso na alma que deixa tudo escuro, que trás um gosto acre na boca, que deixa tudo pardo, um cansaço de viver que se mistura com uma necessidade enorme de viver, de sentir a vida, de competir o som da voz com o próprio eco.
Sei que comigo tudo é ao extremo, amo demais, sinto demais, e por mais que eu viva demais ainda sinto que falta algo a ser vivido, algo pra completar o vão que ficou, pra fazer superar a resistência criada por mim de se deixar cativar...
Enfim, como Quixote me disse essa semana: “ Você é a pessoa mais humana que eu conheço...” 

quinta-feira, 21 de abril de 2011



- Como assim ela era bonita?
Alice questionou Quixote à respeito de uma garota com quem ele havia se envolvido antes dela, e não estava gostando muito do rumo da conversa.
- Ué, você perguntou se ela era bonita e eu respondi com um “é” seco.
- Podia ter respondido com um “não” seco!
A semana já não estava boa e as coisas ainda conseguiam piorar.  Tempestades haviam invadido o mundo de Alice e sempre que ela achava que o sol voltaria a brilhar, chovia mais torrencialmente do que nunca. A tempestade havia deixado muita coisa fora do lugar e a vida de Alice era uma delas.
- Alice, não precisa ficar assim por conta disso, você sabe que meus olhos são só seus.
- Você gostaria de ouvir esse tipo de coisa de mim?
- Não, exatamente por isso que eu não pergunto.
- Você nunca pergunta nada! Nunca percebe nada, eu sempre tenho que vir atrás de você rastejando sua atenção quando eu não estou bem por que nem isso você consegue perceber! Minha semana foi um inferno e só piora e você ao invés de me ajudar, só está me deixando mais triste!
- Mas Alice, eu não tive essa intenção! E sim, eu sou péssimo em pegar as coisas no ar.
- Então além de tudo não me conhece direito para saber quando não estou bem?
Quixote a fitou com os olhos tristes. Não sabia mais o que fazer para consertar aquilo e parecia que tudo que dizia se virava contra ele. Nunca havia visto Alice assim tão fora de si, estava triste havia uns dias, mas já não sabia o que fazer.
Preferiu ficar calado e seguiu-se um silêncio desesperador.
Alice se virou de costas e com as mãos no rosto começou a chorar. Um choro calado, mudo.  Vez ou outra era possível ouvir algum soluço.
Quixote se aproximou devagar e lentamente a tocou. –Alice...
Alice se virou o olhando tristemente e o silencio pairou mais alguns instantes. Então Quixote a envolveu em um abraço quente, o qual ela retribuiu e se colocou a chorar por mais alguns instantes.
- Me desculpe Quixote, eu estava errada. Exagerei com você e passei dos limites. Minha semana foi difícil e acabou sobrando pra única pessoa que se importa realmente comigo e que tenta me ajudar. Perdoe-me Quixote, por favor!
-Alice, não se preocupe, vai passar e tudo ficará bem.
- Não sei como você agüenta namorar comigo.
- Primeiro por que não é sacrifício nenhum... segundo por que eu te amo mais que a minha própria vida! É impossível não se apaixonar por você.
Alice enxugou as lagrimas e num sorriso envergonhado deu um beijo salgado, devido as lagrimas, em Quixote.
- Você é mesmo muito bobo....
- Sou... mas tenho dona!
- Ah é?
- É!
- E posso saber quem é?- Perguntou Alice com um riso bobo.
- Você!
Os dois riram por uns instantes quando Quixote diz:
- Mas vai, agora confessa!
- Confessar o que? - Perguntou Alice com cara de dúvida.
- Ficou com ciuminho de mim néééé??
- Ai Quixote, você não vale um real!
- Mas te amo taaaanto!
E os dois caíram na risada novamente, enquanto o dia passava de uma forma mais feliz.


domingo, 13 de março de 2011

Alice e Quixote



Alice estava sentada em uma pedra molhando os pés delicados no riacho que havia
colocado o barquinho com o recado para Quixote. Algo lhe dizia com certeza que ele havia recebido seu recado, e esperava ansiosamente que ele viesse lhe ver. Porém, o dia já havia se passado e Alice podia ver o sol sumindo ao horizonte e nada de Quixote aparecer. Ora essa, ele não morava assim tão longe para demorar tanto...
Alice começou a pensar que talvez, Quixote tivesse desistido dela, tivesse se cansado de seu mundo e de suas confusões, afinal ela era mesmo muito indecisa, e quando ficava insegura a tendência era piorar horrivelmente. - Afinal, - pensou Alice com seus botões - ele não é obrigado a me aguentar e a querer essa vida pra ele, um dia estou sorrindo e no outro chorando...
Eu devia ter imaginado que ele se cansaria... vai ver até já encontrou outra pessoa, alguém que o ame e o mereça... - e pensando nisso, sentiu um nó enorme na garganta. Alice não poderia culpá-lo se tivesse realmente encontrado outra pessoa, desejava que ele fosse feliz, entretanto não conseguia dominar seus sentimentos ao ponto de não se sentir enciumada e até mesmo com uma pontinha de desespero só de pensar em perdê-lo...
Foi quando ouviu o barulho de galhos secos e folhas estalando às suas costas... - Quem está aí?! - Perguntou Alice em um pulo.
O silêncio se manteve e Alice tornou a repetir: - Vamos! Sei que tem alguém aí, não sou assim tão maluca! Quem está aí?
Devagarinho Alice pode ver os caixinhos loiros de Quixote sairem de trás da Árvore, e aqueles olhos verdes cintilarem para ela mais uma vez. Meio trêmulo, Quixote foi logo dizendo: - Alice, eu... bom... a carta... em forma de barco sabe? Seu bilhete?
Pra mim né... bom eu esperava que fosse, tinha meu nome nele...
Alice observava Quixote todo atrapalhado e não teve como conter o riso. Estava inundada por uma alegria sem tamanho em vê-lo e então no meio das palavras perdidas de Quixote, Alice se aproximou sorrindo e o beijou.
Que saudade sentia dele, do toque dele, do cheiro dele, de tudo nele. Podia o ficar beijando eternamente.
Quando os lábios finalmente se separaram, Quixote estava pasmo, emudecido e completamente bobo fitando Alice, enquanto ela estava rosa de vergonha. Então quebrando o silêncio Alice disse: " Fico feliz que tenha vindo... achei que não viria por ter desistido de mim ou ter encontrado outra pessoa... Isto é, você encontrou outra pessoa? Ai meu Deus, se encontrou eu te beijei! Desculpe Quixote, desculpe! Menina burra que sou!
- Você não é burra Alice. - Quixote falava olhando-a nos olhos. Você é a garota mais inteligente que eu já conheci... a mais doce, a mais meiga, a mais linda. Nada nesse mundo me faria desistir de você, ou colocar outra pessoa em seu lugar. Meu coração é seu Alice, meu amor eu guardei só pra você...
Alice nem podia descrever como se sentia feliz em ouvir tudo aquilo.
- Quixote, sei que passamos por muitas turbulências, sei que fiz você passar por muitas provações mesmo sem querer.
Sei que eu sou confusa, que me perco em pensamentos e decisões... mas esse tempo foi bom pra eu pensar e ver como as coisas são. Pra eu ter certeza que eu quero muito ser feliz e mais Quixote, eu quero ser feliz com você, porquê eu te amo...
Amo esses olhos verdes, esse sorriso bobo, sinto a tua falta cada vez que você vai embora. Eu quero me casar com você e viver feliz pra sempre, mas antes disso, eu quero muito ser sua namorada e usar uma aliança como a gente sempre quis. Eu quero mostrar pra todo mundo que eu estou com você, que a gente dá certo e que eu estou feliz...
Alice foi sentido a pele corar e ficar quente, começou a sentir as mãos tremerem e um frio na barriga foi tomando conta dela. 
Baixou os olhos e começou a fitar os próprios pés esperando pelo que Quixote diria.
Mas ao invés de muitas palavras, Quixote a tocou delicadamente no queixo levantando seu rosto fazendo com que seus olhos ficassem na mesma altura que os dele e disse - Eu te amo - para em seguida selar o momento com mais um beijo apaixonado.
Um beijo de Alice e Quixote.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Um pouco sobre Alice


Às vezes eu acho mesmo que deve ser muito difícil alguém se relacionar comigo. 
Por mais que me digam que não é, a explicação que tenho é obviamente a de uma boa romântica que acredita que o amor rompe qualquer tipo de barreira, entre elas, claro, não desistir de me amar.
Suponho que me amar seja parecido com o filme "Como se fosse a primeira vez", onde a pessoa precisa todos os dias estar me conquistando, e me dando também motivos para amá-la. Preciso me sentir segura, me sentir confortável, para sair 
de meu casulo e mostrar minhas lindas asas coloridas, muito, muito frágeis. 
Sou feita para se admirar com cautela e à distância. Se você chega muito perto eu fujo, se percebo muitos olhares em minha direção, me escondo. Preciso de uma abordagem leve e sutil, não gosto de ser pressionada e enfim... tenho muitas, muitas exigências. A verdade mesmo é que as vezes eu não gosto de ser quem eu sou. Me odeio por ter certos tipos de comportamento, sou ansiosa, um pouco exagerada e muito confusa. Pra lidar comigo tem que ter muita paciência e não pode se ferir com facilidade pois, eu firo os outros sem querer. Minha sinceridade é minha armadura e nem sempre isso é bom.
Fico impressionada com os que não cansam de mim, e não desistem de lutar por meu amor.
Afinal, eu não passo de uma garota perdida, antes por destino, agora talvez por opção? 
Não gosto quando o mundo gira muito rápido, eu não consigo pensar direito.
Só sei que as vezes, gostaria de ser diferente, gostaria que fosse diferente.
Certas coisas precisam mudar...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Barquinho de Papel




Alice estava deitada embaixo de um pé de Lichia, curtindo a sombra e o vento fresco que a natureza lhe proporcionava.
Fazia muito calor, e Alice sofria muito com esse tipo de clima. Ela gostava pois o sol iluminando, dava vida as coisas,
deixava tudo lindo e colorido, mas ao mesmo tempo o frio, nublado e cinza já estava fazendo falta. Mesmo que deixasse tudo aparentemente mais triste, ela preferia dias nublados.
Se colocou então a pensar na vida, quanta coisa tinha acontecido... Havia ido parar em outro mundo onde não conhecia ninguém e conservava apenas velhos amigos. Ficava só a maior parte do tempo, sua casa estava de ponta cabeça, não havia espaço se quer para ela mesma. Isso sem falar nos compromissos e responsabilidades que iam crescendo cada vez mais.
Toda aquela solidão pra fazer algum sentido tinha que vir acompanhada de outras coisas, uma completude, como peças de quebra-cabeças que conseguem se encaixar. A escolha de ficar sozinha e a solidão por si só já não fazia mais sentido.
Estava sentindo falta de sua antiga vida e de todas as pessoas que faziam parte dela, isso incluia é claro, Quixote.
Olhando o céu e observando as formas que as nuvens faziam, foi lembrando tudo o que já havia vivido com ele desde o começo em todo aquele tempo. Os ensinamentos, as risadas, os passeios, as brigas, os medos sempre tão presentes, e tudo mais
que lhe lembrava aqueles olhos verdes.
Então num rompante, pegou um lápis e um pedaço de papel e escreveu:

" Estou sentindo falta desses olhos verdes e do frio na barriga que me dava olhar para eles a me admirar.
Falta do seu sorriso bobo e das cartas que só você sabe escrever pra mim...
Será que conseguiremos resolver esse problema e continuar mantendo o equilibrio?"


Dobrou em formato de barco e o colocou sobre o riacho ali perto. A água corria com vontade e ela tinha certeza que em instantes Quixote estaria lendo seu recado.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011




Alice se sentia insatisfeita. Assim que abriu os olhos naquela manhã, o sentimento de insatisfação encheu seu peito e não foi mais embora. Começou a pensar na vida pra tentar entender porque se sentia assim. Foi juntando os fatos e notou que, com a vida como estava, toda bagunçada, era impossível não se sentir daquele jeito.
Entretanto, viu algo mais. Viu que sempre que dizia que pretendia ficar só, nunca ficava. Parecia que seu corpo possuía algum elo magnético que fazia com que as pessoas grudassem ainda mais nela e a sufocassem ainda mais, e ela ia agüentando aquilo mais e mais porque não gostava de ser desagradável.
Foi então que num estalo, percebeu seu erro. Estava exatamente aí, na sua cara o tempo inteiro. Alice se sentia assim, pois sempre que fazia algo nos últimos tempos, fazia mais pelos outros do que por si mesma.  Não que não gostasse, gostava sim. Mas fazer o mesmo sempre acabava ocupando um lugar de obrigação na sua vida, não de escolha.
Faltava isso. Faltava a liberdade de escolher o que gostaria de fazer sem interferências, sem a preocupação que magoaria ou não alguém. Estava pensando muito nos outros e pouco em si mesma. Desde o inicio do ano havia traçado um rumo para sua vida que insistia em se desviar do caminho, e agora isso já não agradava mais.
Respirou fundo, fitou seus pés e lançou um olhar distante.
Era preciso muita força de vontade pra conseguir o que queria. Era preciso mais que isso.
Era preciso coragem.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011




Alice estava sentada em um cogumelo saboreando lichias em um dia de sol.  Fazia muito calor, e como adorava frutas (especialmente lichias geladinhas, suco de melancia/melão e uma boa água de côco) resolveu juntar o útil ao agradável.
Estava sozinha e se sentia confortável. Havia conversado com Quixote e voltaram a ter uma boa relação, mas já não o via há alguns dias, provavelmente por opção, e não se sentia mal com isso. Estava mesmo precisando ficar só.
Não que se excluísse do mundo, longe disso, freqüentemente conversava com ele, às vezes com o chapeleiro e a lagarta, mas haviam novos caminhos surgindo na vida de Alice os quais ela gostaria de saborear , mesmo porquê estava passando por maus bocados há algumas semanas os quais somente ela poderia resolver.
Era difícil para alguns respeitar o espaço dela ou entender sua decisão, mas ninguém melhor que ela para saber o que seria o ideal a fazer com sua própria vida.
Estava disposta a respirar, a seguir em frente e gostaria que ninguém, ninguém mesmo atrapalhasse essa decisão. Estava cansada de dar explicações, procurar por respostas.

Ela só queria viver a sua maneira e fazer tudo o que tivesse vontade.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011



Após alguns dias de silêncio, sem trocarem uma palavra, sem se ouvirem ou se falaram, sem ao menos se olharem, Quixote criou coragem para quebrar aquele silêncio fúnebre:
- Por quê eu sou um idiota!
-Ahn?  - respondeu Alice olhando para ele com curiosidade e interesse apesar da chateação.
- Por quê sou um idiota! Ele repetiu a fitando seriamente com os olhos verdes e desta vez, muito, muito escuros.
Alice sorriu tristemente e baixou os olhos devagar. Deu um suspiro longo e perguntou: - Certo, e o que a gente faz agora?
- Me dá outra chance! Juro que vou fazer tudo direito!
- Era o que você me dizia antes...
- Mas desta vez será diferente! Eu prometo Alice, prometo! Me deixe tentar!
- Você me dizia tudo isso antes Quixote. Traiu minha confiança! Como posso ter certeza se poderei confiar novamente em você?  Confiança é como uma teia Quixote, delicada, invisível e fina, qualquer deslize destrói o trabalho todo! Quanto tempo eu não demorei para confiar em você? Quantos e quantos anos? E você destruiu tudo, tudo o que construímos juntos!
- Eu sei Alice, e assumo todos os meus erros. Mas te amo mais que minha própria vida, mato e morro por você. Só de pensar em acordar e já não ver teus lindos olhos, meu coração entristece, a vida some... Sei que errei, mas acho que é possível consertar se você me der uma chance, só mais uma!
Alice olhou calmamente para Quixote, fitando aqueles olhos, que sempre foram dela. Algo neles dizia “ por favor, confie em mim” ...
- Certo Quixote, certo.... Vamos conversar...