segunda-feira, 26 de julho de 2010





“Ei Alice... você gostaria de sair comigo esta noite?”
Nem consegui acreditar quando ele me convidou. Era fácil perceber ao telefone, que ele sorria do outro lado da linha, e eu também passei a sorrir, ainda mais, quando recebi seu convite.
Embora já tivéssemos saído juntos outras vezes, me senti ansiosa, da respiração mudar e da indecisão sobre qual roupa usar baterem em minha porta e ficarem comigo por uns instantes.
Ah claro, havia também o relógio! O maldito relógio do coelho, sempre parado, as horas não passavam nunca! Como ele tinha a audácia de me dizer que eu estava sempre atrasada quando na verdade nem batia?
Enfim, quando à hora chegou e ele apareceu para me buscar, estava lindo!
Parado, me fitando com aqueles olhos verdes, tão meus como sempre foram, as mãos nos bolsos da calça jeans, sorrindo levemente pra mim.
Impossível não retribuir o sorriso ou não baixar os olhos de vergonha. Mas eu estava feliz.
Então ele se aproximou de mim, e sem dizer nada, colocou uma mão em minha cintura e a outra passou em baixo dos meus cabelos me puxando levemente para ele e me dando um beijo. Doce e curto, mas que me diziam “você é minha esta noite”.
Após isso, sorri envergonhada para ele e o fitei por uns instantes.
Não havia a necessidade de palavras. Nos conhecíamos bem o suficiente pra entender e pra saber o que o outro pensava ou queria apenas por nossas feições.
Então, ele abriu a porta do carro para mim e juntos seguimos para a noite que nos aguardava.



quinta-feira, 8 de julho de 2010

           
  Ouvi um barulho e então comecei a averiguar o que poderia ser. Olhei primeiro ao redor, mas não encontrei nada, então tentei identificar o som para saber de onde poderia estar vindo. Eram suspiros atrelados a soluços, que se misturavam e silenciavam. Pequenos uivos, de dor talvez, acompanhavam todo esse embaraço. Identifiquei a direção, e cautelosamente andei tentando não fazer barulho quebrando algum galho ou passando pelas folhagens. Era fim de tarde e fazia muito sol, o que deixava o barulho dos galhos secos ainda mais altos à medida que estralavam enquanto eu pisava.
  Então, quando levantei uma grande folha de árvore, consegui ver, sentada sozinha em cima de um grande cogumelo, uma garotinha loira de vestido azul. Tinha as mãos levadas ao rosto, a cabeça baixa e parecia chorar. Dei uma leve tossida para informar minha presença, e assim que me levantou aqueles olhos amendoados, entendi que se tratava de Alice.
  Assim que me viu, levou um susto e não disse nada. Em seguida então voltou a esconder o rosto sobre as mãos e a chorar.

- Alice! O que aconteceu? Porque choras sozinha aqui, escondida?
- Não foi nada coelho, não há de ser. Só coisas que minha mente fértil cria pra me atormentar.
- Ninguém chora por nada Alice. Alguém a magoou?
-Não sei ao certo... mas acho que sim...
- Ora vamos Alice, o que fizeram de tão grave?
- Me fizeram acreditar que eu podia ter tudo, se eu batalhasse, poderia ter tudo o que quisesse, mas não é assim! Ele me enganou! Mentiu pra mim!
- Quem mentiu Alice?
- Ora, isso pouco importa! As pessoas mentem o tempo todo! Só não entendo por que ele faz isso comigo!
- O que Alice? O que ele faz?
- Mente! Diz que sou única, faz de tudo pra eu acreditar! Mas é tudo mentira! Eu sei que existe outra única na vida dele! E ele a defende com unhas e dentes!
- Está com ciúmes de alguém Alice?
- Estou magoada coelho... Não sei nem se tenho o direito de estar, mas existem tantas coisas em minha cabeça!
- Alice, Alice... Como diria o Chapeleiro: porque as vezes você é pequena demais, ou então grande demais?
- Sou como tenho que ser coelho, como o momento pede! E quando não sei como deveria agir me sinto pequena, triste, e choro, como agora.
- O que te deixaria feliz então?
- Sinto falta de algumas coisas... Coisas que me faziam sentir viva... Não sei como consegui-las novamente... A essa altura não sei nem se eu as quero novamente!
- Ah Alice... você está confusa. Gostaria de ficar só? Gostaria que eu a deixasse pensar?
- Acho que pensar é o que menos quero fazer coelho... o que menos quero fazer...
- O que gostaria de fazer então?
- Me conta de novo sobre quando caí no buraco e descobri que este era meu mundo?
- Claro Alice, claro... vou lhe contar...