quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tremores

“Eu querer que você fique no meu mundo Quixote, é algo bom para nós, mas preciso que você me de motivos para ficar, consegue entender?”
Olhava pra ele com intensidade, fitando aqueles olhos verdes, tão profundos, que a encaravam.
A expressão de ambos estava séria e o clima estava tenso. Haviam estado juntos vários dias, discutindo sobre a fusão dos mundos, se daria certo ou não, e ao mesmo tempo em que se preocupavam com isso, esqueciam da vida, riam e se divertiam.
Não havia uma única vez em que Alice ficava ao lado de Quixote sem sorrir. Ele adorava arrancar sorrisos dela, e nunca, nunca mesmo, cansava de dizer o quanto ela era linda.
Entretanto, nos últimos dias, certas coisas foram pesando na vida de Alice. O mundo dela começou a girar depressa, entrava em colisão com o dele, o chão tremia e ela achava que não iria agüentar. Tinha muita vontade de fugir e se esconder.
Havia certas coisas entaladas na garganta, que ela sentia a necessidade de contar a ele... só não sabia como fazer isso. Quixote era sempre tão genioso, que era melhor prevenir qualquer tipo de discussão.
Mesmo quando ele dizia a ela: “você pode me contar o que quiser! Eu posso não gostar, mas eu vou entender! Você é assim, eu conheço o seu jeito, sei como você é e respeito isso”, ela ainda preferia não contar.
Uma vez, conversando com o chapeleiro, ele disse a ela algo que fez sentido: “Alice, você vai contar as coisas para ele, se ele fizer por merecer. Se ele conseguir conquistar este espaço, você irá contar tudo a ele, assim como conta pra mim. E devo ser sincero, não existe preço no mundo que pague essa confiança.”
Em uma noite dessas, outro tremor aconteceu. Forte. Tremia muito, muito barulho. O impacto foi tanto que até derrubou algumas árvores! Alice se desesperou em ver seu mundo cair...
Escondeu o rosto nas mãos e chorou. Muito. Soluçou.
Quando o tremor passou, Alice ainda chorava. Estava com medo e assustada.
“Será que isso vai dar certo?”, pensava com desespero. O ar faltava no peito e o coração estava disparado.
Quixote chegou mais ao fim da tarde, e vendo o estado de Alice ficou preocupado. “ O que foi Alice? O que você tem?”
Depois de muito esforço para se abrir com ele, conversaram. Aparentemente estava tudo resolvido.
Aparentemente.
No dia seguinte, aconteceu tudo de novo...

domingo, 15 de agosto de 2010



Durante todos esses anos de encontros e desencontros, de intrigas, de confusões, de brigas, de fazer as pazes e brigar de novo pra fazer as pazes outra vez... Algo dentro de mim gritava, berrava, urrava pedindo para que você ficasse sempre perto de mim.
Eu nunca entendi o que isso queria dizer... ou talvez não quisesse enxergar, eu não sei dizer.
Tudo o que eu sei, é que a minha necessidade de você era algo fora do comum, algo que me dizia “não o deixe partir”.
Você tem razão quando diz que eu choro sempre que você vai embora, por que eu chorei em todas elas... Todas.
Eu nunca consegui explicar por que não podia deixar você ir, mesmo eu dizendo milhões e milhões de vezes para que você fosse... Hoje fico feliz por você nunca ter me ouvido.
Pensando francamente, cheguei a conclusão que talvez, não era você que não estava pronto para mim, mas eu que não estava pronta pra você.
Hoje, finalmente nossos mundos se cruzaram, eu permiti a entrada do teu mundo no meu, eu me permiti ser feliz com você, com vontade e sem culpas...
Hoje, diferente do passado, eu peço novamente para que você não vá embora... Mas dessa vez, é por que eu quero que você fique nele.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010




Alice andava distraída pelo seu país, conversando  com o chapeleiro. Falavam sobre tudo, o tempo todo, o mais interessante é que nada dito por eles era considerado um absurdo por ambos, afinal, tudo era possível no país das maravilhas.
Enquanto caminhava, observou uma trilha desconhecida por entre as árvores.
- Você quer seguir por ela? – perguntou o chapeleiro
- Sinto vontade, mas não sei se deveria – retrucou Alice pensativa.
- Me diga porque quer entrar e saberemos então se vale a pena!
- Não sei, apenas sinto vontade, algo me instiga a saber o que tem ao fim da trilha – se é que ela tem fim!
- Ter vontade de algo já é um primeiro passo para queremos fazê-lo! Não é fascinante? Ter vontade de fazer alguma coisa é nada mais que fascinante para mim!
Alice sorriu ambiciosa por uns instantes e lançou um olhar afirmativo ao chapeleiro. Antes de mergulhar pela trilha, hesitou um instante. Será que deveria?
- Ora vamos cara Alice! – dizia o chapeleiro no auge de sua euforia, balançando as mãozinhas indicando que Alice fosse em frente.
Ela então respirou fundo e abriu um sorriso largo: - Te vejo depois! – E adentrou a floresta seguindo pela trilha curiosa.
Pelo caminho, haviam flores, muitas delas, principalmente rosas, vermelhas e triunfantes. Aquele cheiro delicioso que inundava as narinas fazendo que se houvesse cada vez mais vontade de ir em frente, de não parar! O coração estava sim disparado, um pouco de medo, ansiedade, mas que não deixava que seus pés parassem de caminhar.
Até que ouviu adiante um ruído. Parecia metal sendo polido, ou afiado, e quanto mais andava, mais o ruído aumentava.
Avistou algo brilhante depositado sobre uma pedra, e ao chegar perto, notou ser uma armadura. Brilhante e prateada, não havia como não parar para admirar.
- Engraçado – pensou Alice – o Glorian´s Day já foi há muitos meses, e que eu me lembre, minha armadura não era assim, e também não sei de mais ninguém que use uma armadura por aqui...
Então num susto, ouviu uma voz masculina as suas costas:
-Bonita não é?
Em um pulo e com o coração na garganta, Alice se virou tão bruscamente, que precisou se apoiar na pedra para não cair. Então avistou um homem, aparência tão jovem quanto a dela, loiro, olhos verdes, tão brilhantes quando emeraldas e sorria tão docilmente que não havia como retribuir.
- Quem é você? O que faz aqui?
- Não fica claro? – disse o jovem sorridente apontando a armadura com a ponta da espada – sou um cavaleiro andante!
- Cavaleiro? – Alice riu por uns instantes – desses que salvam donzelas em torres e coisa parecida?
- Ora, porquê não?
- Hmm... não sei porquê não estou surpresa...
- Talvez – disse o jovem ainda sorrindo – porque tudo seja possível quando você acredita...
Os dois se encararam por uns instantes. Era tão bom olhar aqueles olhos de esmeralda!
Como seria o nome dele? Será que era tão inteligente quanto aparentava? E onde ela estava afinal? Havia andado tanto que já não sabia se estava no seu mundo ou se tinha desviado para outro lugar qualquer...
- Gostaria de dar uma volta?
- Bem... porquê não? – Respondeu Alice num risinho desconfiado.
- Vamos Alice, você vai gostar...
- Como sabe meu nome?
- Existem muitas coisas que eu sei sobre você – e sorriu abertamentamente.
- Bem, e o seu nome, qual é afinal?
O jovem sorriu, olhou para o chão em busca de algo, apanhou uma rosa e entregando a ela disse:
- Muito prazer... Dom Quixote!