segunda-feira, 12 de setembro de 2011





O dia havia amanhecido para Alice com gosto de luto. Aquela sensação esmagadora no peito, sufocando esperança, sentimentos, cores da vida. O dia havia amanhecido, literalmente, cinza.
Se arrastou pela casa, solitária, tomou café por rotina e obrigação. Luto misturado à ressaca emocional de algo sem causa aparente invadiam a casa pelas portas e janelas.
A sensação de ter que começar tudo de novo, mais uma vez, a obrigatoriedade de ter que continuar sem fraquejar, de provar a si e aos outros que podia estava cada vez mais exaustivo. Como era pesado carregar o mundo.
Mais pesado ainda era não ter o que fazer, era o conformismo que predominava, não pela falta de luta, mas pela falta de escolha. Não havia o que fazer. Ou continuava seguindo em frente ou abandonava tudo.
Ao fim da tarde Quixote apareceu.  Alice fazia de tudo para sustentar os problemas sem deixar transparecer. Mostrar pra que? Não haveria nada que ele pudesse fazer.
Mas não deu certo. Perto da hora de Quixote partir, Alice fraquejou. Chorou, chorou muito, sem fazer barulho, sem respirar.
- Alice, eu estou aqui com você!
- Eu sei que está Quixote. Mas você vai embora.
- Mas eu sempre volto.
- Você não entende? Não é questão de voltar sempre. É a questão de precisar sempre ir!
- Mas eu vou pra depois voltar.
- Só que o mundo gira Quixote...
- Tá, e daí?
- Daí que ele nunca para de girar...