terça-feira, 21 de dezembro de 2010



- Porque você está fazendo isso? Porque está me pedindo pra partir, pra ir embora da sua vida, pra abandonar tudo? Não era o contrario que você queria?
- Era, até você estragar tudo.
Alice e Quixote discutiam por dias, horas e horas a fio, ela tentando explicar, ele tentando entender. As vezes, ela tinha a impressão que por mais que falasse não saía do lugar.
E ele, não deixava de ser egoísta nem nesses momentos. Ele queria falar com ela, porque ele estava desesperado, por uma besteira enorme que ele havia feito, e agora queria de qualquer maneira que ela o aceitasse de volta em sua vida.
Alice estava tremendamente magoada, decepcionada e muito, muito machucada. Cada vez que lembrava respectivas cenas, seu estomago embrulhava e ela não sabia se chorava ou ria.
- Mas eu aprendi a lição! Eu li o livro que você me deu!
- Antes mesmo de você ler o livro eu já havia conversado sobre o assunto com você, mais de uma vez. Você dizia que me entendia quando na verdade não entendia nada e continuava pisando na bola comigo. Agora não tem mais jeito, eu não consigo mais pensar em você sem lembrar de tudo várias e várias vezes!
- Eu sei que está magoada, eu entendo. Não pode me dar outra chance?
- Mais chances do que as que eu dei? Francamente!
- Mas eu estou fazendo tudo o que você quer!
- É está... agora que me perdeu e está desesperado pra me ter de volta...
-  Você não pode reconsiderar?
Alice olhou para ele boquiaberta. Uma fusão de ódio, raiva, mágoa, decepção, angustia e mais um monte de coisas preencheu seu peito. Os olhos encheram de lágrimas e ela abaixou a cabeça e a balançou para os lados de maneira negativa enquanto as lágrimas pingavam.
Quixote a olhava com os olhos também marejados sem saber o que mais poderia fazer. Pegou sua espada e sua armadura e enquanto se virava lentamente ouviu Alice sussurrar:
- Porque você tinha que estragar tudo?
...



Alice correu a manhã toda em busca da toca do coelho, para que pudesse se atirar nela novamente e se esconder ou ir parar em algum lugar qualquer que não fosse ali.
Estava cansada, definitivamente de saco cheio de tudo e de todos. Quanto mais pedia para ficar em paz, mais atormentada era. Afinal de contas, porque as pessoas acham que para ajudar elas precisam necessariamente fazer alguma coisa? Às vezes, só de não fazer nada, já é absolutamente eficiente. Era o que queria. Queria ficar em paz, e sozinha.
Ficar sozinha não é ruim, mas as pessoas associam solidão a algo ruim, trágico, depressivo, o que não significa necessariamente que seja.
Mas onde estava aquela maldita toca? Pensava que por muito tempo gostaria de ficar ali quando na verdade o que mais queria era ir embora.
Fugir da pressão de todos, o ar tinha cheiro de hipocrisia, as rosas haviam morrido e ela estava novamente sozinha.Tudo o que sabia, era que ainda não havia encontrado o que estava procurando.
Derrotada, se sentou em baixo de um salgueiro em silêncio, e ficou, olhando o nada. O chapeleiro que passava por ali, ao ver Alice, se aproximou e perguntou – Alice, o que está fazendo?
Alice lhe lançou um olhar sem vida e num sussurro baixo respondeu  - Preciso ir embora daqui. Estou desesperada. Não agüento mais.
O chapeleiro olhou com compaixão pra ela e respondeu  - “Você bem que podia ficar...”
Alice olhou para o chapeleiro e lhe lançou um sorriso triste dizendo –  Desculpe... em todos esses anos, ainda não encontrei um bom motivo para ficar...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

22


A vida é como música na minha concepção. E cada ritmo faz surgir uma explosão de imagens, sensações, sentimentos, desejos entre muitas outras coisas que podemos expressar.
Sempre que escuto alguma música que mexe com meus sentidos, minha vida passa em minha cabeça como um filme, e eu lembro de várias cenas, boas e ruins, e o quanto eu mudei a medida que o tempo passou. Sei que a base continua a mesma, a fôrma é a mesma, mas o recheio, passou dos sabores mais picantes aos mais adocicados, e hoje eu só sou quem sou por tudo o que eu passei.
Devo isso a muitas pessoas, que me fizeram passar por esses momentos bons e ruins, mas principalmente devo a mim mesma, por ter tido a coragem de viver cada um deles, com intensidade, com vontade, e mesmo quando incompreendida nunca deixar de seguir, e mesmo quando compreendida, nunca me acomodar.
Sei que já houveram situações que errei amargamente e todos viram, e situações que acertei com glória e ninguém reconheceu. Mas isto também é vida, é saber superar as frustrações, assim como a psicologia.
Hoje, no início dos meus 22 anos eu ainda quero conquistar o mundo. Eu quero viajar e conhecer lugares diferentes com as pessoas que eu mais gosto, e assim ir conhecendo mais pessoas e mais pessoas, porque eu amo viver. Eu quero um dia ter coragem de voar de asa delta e pular de pára-quedas com uma música de fundo bem animada, e toda vez que eu a ouvir me faça ter a sensação de estar vivendo tudo de novo.
Eu queria apagar algumas lembranças ruins, mas assim como eu quero eu também sei que não posso, pois de alguma forma aprendi com elas e elas fazem parte do que eu sou. Mas principalmente, quero levar as lembranças boas, a todos os lugares, e mesmo me lembrando delas com carinho, e sentindo uma saudade triste, pois é algo que eu sinto falta, eu jamais quero esquecer ou deixar de pensar.
Obrigada a todos que fizeram e fazem parte dos meus 22 anos.  Eu não estaria aqui sem as mãos que se estenderam a mim e me ajudaram a subir a montanha da vida que eu me encontro agora. E espero que fiquem comigo. Há ainda muito o que escalar, e quero fazer isso com vocês!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pode Ser...




Pode ser que o tempo se confunda e troque as bolas, que adiante os ponteiros e em seguida torne a atrasa-los, e nos deixe então perdidos sem saber o que está havendo, se está certo ou se está errado. Pode ser que não saibamos explicar o porque, que não entendamos porque determinadas coisas acontecem e só nos reste então seguir com a conformidade da vida ser assim mesmo e paciência. Pode ser que tenham desajustado as orbitas do planeta, que os astros estejam amalucados que o tempo já não saiba mais a precisão de seu momento, pode ser...
Pode ser que tudo volte a ser como era antes como pode ser que não... Pode ser que o que eu diga adiante ou então não faça a diferença, pode ser que só resolva no momento e que depois seja esquecido,  pode ser que não obtenha resultado algum.
Pode ser que eu tente mais um pouco ou que desista de uma vez, pode ser amor...
Pode ser que passe e que fique só saudade, pode ser que me entenda, pode ser que me espere, pode ser que desista também...
Pode ser que este ano acabe bem...
Pode ser...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Finados



Quando minha avó faleceu, acho que foi um dos dias mais tristes da minha vida. Me lembro como se fosse ontem o que eu fazia, quando recebi o telefonema da minha mãe, que estava no hospital com ela enquanto a cirurgia acontecia – e dava errado.
O mundo desabou. Sabe a sensação de perder o chão? Pois foi exatamente assim. Uma mistura de não acreditar, com duvidar, com ter certeza, com não saber o que fazer.
Me lembro de tudo que aconteceu depois. Me lembro de forçadamente trocar a roupa colorida que eu usava para um preto fúnebre. De receber minha mãe em casa e não saber como ampará-la, pois eu não conseguia nem amparar a mim mesma.
Quando chegamos ao cemitério, todos juntos, e seguimos o caixão até o centro da sala para o velório, e ele foi destampado, nunca vou esquecer do desacreditamento da minha mãe quando disse “ ai... é você mesmo..”
Minha avó estava linda. Usava uma roupa de festa que ela mesma havia separado, pois dizia que queria entrar no céu linda, com festa.
Fico pensando o tanto que ela sofreu quando viva. Sofreu a vida inteira.
Lembro da última vez que a vi viva no hospital. Olhava pela janela, o céu nublado escuro, e tinha a visão longe. Até tentei puxar alguma conversa, mas ela não respondia. A sala de UTI é muito triste.
Depois de algum tempo com ela, ela disse “ cadê sua mãe?”
Então eu disse que iria chamá-la. Eu não sei como, mas de alguma forma eu sabia que seria a última vez que a veria com vida. Decidi ceder ao desejo dela de ficar com minha mãe. Saí da sala chorando muito. Entrei no elevador chorando, e lá encontrei com um enfermeiro que ficou completamente perdido ao me ver daquele jeito.
Quando cheguei ao térreo, meus irmãos e minha mãe se assustaram com meu comportamento. Diziam pra eu ficar calma, que tudo ia dar certo. Queria saber da onde tiravam tanta confiança.
Minha mãe se apegou muito mais a Deus. Quando estávamos indo de carro até o hospital, tocava no rádio uma música da Kelly Osbourn que dizia “ Yeah, yeah, God is great, yeah, yeah, God  is good”.
Ironia do destino talvez?
Eu não sei. Sei que fiquei com muita raiva dele depois que minha avó morreu.
Hoje em dia, penso diferente. Apesar de todo sofrimento de minha mãe, e do restante da família, a morte pra minha avó veio como um alívio.
Um alívio de todo sofrimento que ela foi obrigada a viver.
Descanse em paz vovó.

domingo, 10 de outubro de 2010




Quixote a segurou pela mão e disse “Vem comigo, quero te mostrar uma coisa”. Alice segurou firme e foi seguindo logo atrás dele. Já era noite e ventava muito. Enquanto seguiam pela trilha, Quixote ia à frente guiando Alice, a única luz que possuíam era a da lua e estrelas sobre as cabeças, que ia iluminando o caminho à medida que avançavam.
“Aonde está me levando?” perguntou Alice enquanto se concentrava em não tropeçar e cair.
“Você verá, é logo adiante”, respondeu Quixote dando uma apertada leve em sua mão.
Caminharam alguns minutos, Quixote seguia seguro a frente, enquanto Alice apertava sua mão e ia pulando pedras e galhos que entravam no caminho.
“Chegamos”, disse Quixote se virando para ela.
Alice ficou maravilhada. O lugar era lindo. Uma mesa grande de centro, com dois bancos e uma árvore, enorme, que cercava tudo. Ao lado uma trilha de pedras, e uma casa, que parecia abandonada, mas estava bem cuidada.
“Que tal?” perguntou Quixote sorrindo.
“ É lindo!” respondeu Alice, toda boba.
“Achei sua cara... estava vagando esses dias e encontrei esse lugar... a trilha, a mesa, tudo, tudo se parece com você... e olha o céu, como está lindo hoje...” À medida que Quixote falava, seus olhos brilhavam, a intensidade da voz, os movimentos, tudo se voltava para Alice.
Não precisavam de mais nada. Já tinham tudo o que precisavam. O lugar era perfeito, e um tinha ao outro, e se completavam, cada vez mais. Aposto que se Alice tivesse imaginado que seria tão bom estar com ele, não teria se sentido tão amedrontada. Mas, Quixote sabia como ela era, já a vinha observando a muitos anos, e sabia o quanto ela havia sofrido por confiar demais nas pessoas. Hoje, ele tinha a confiança dela, total, plena e absoluta, e tinha o amor que ela tinha pra oferecer.
Ele mesmo dizia que não seria tolo o suficiente pra perdê-la, pois ela era sua vida, era algo que tinha demorado a conquistar, que sabia o valor que tinha.
Alice às vezes ficava desconfiada, distante, parecia não acreditar em seus olhos à medida que as coisas se encaixavam com perfeição, mas assim que via que era real, não podia evitar ficar boba por ele...
Ficaram juntos ali, o resto da noite, vendo estrelas, vendo o céu, observando a mancha fina que estava a lua, que com toda certeza, certeza de Alice, nada mais era o sorriso do Gato Risonho aos observar...



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Parece que não vai ter conserto, parece que não vai dar pra arrumar.
Medo e mais medo, todo dia, sempre antes de dormir, principalmente.
Eu sempre soube que não queria ter você longe, sempre soube que não queria que fosse embora, mas quem vai agora sou eu.
Não é pra muito longe, é verdade, você se demonstra seguro enquanto eu me desespero. Mas é porque você não imagina o conflito que está dentro de mim.
Não estar no mesmo espaço físico que você, não ter certezas concretas me assusta de um tamanho sem tamanho e apesar de parecer redundante dizer isso, não é.
O destino é tão irônico.
O medo é tão assustador Quixote. Será que o tremor das placas tectônicas do meu mundo fez com que ele se separasse do seu, fez meu mundo se mover?
Não queria ter que construir uma ponte...
Porquê as coisas acontecem assim logo agora? Porquê sempre tem que ser tão difícil para nós?
Quando eu digo “ vem comigo?” eu quero que venha mesmo, no sentido literal, que esteja lá fisicamente.
Quero você comigo, quero a nossa vida como é... não quero ir embora.
Vem comigo Quixote?
Vem comigo?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010



Os tremores iam cessando com o tempo.
Parecia que a conversa que Alice havia tido com Quixote estava surtindo efeito, o que era bom. As coisas pareciam finalmente estar entrando os eixos, o que de vez em quando deixava Alice meio desconfiada... Pensava “será que ele vai ser assim pra sempre ou só está fazendo momentaneamente para me agradar?”
Não que Quixote estivesse fazendo aquilo de propósito, mas era humano também, não era?
Alice tinha muita vivência para saber de jeito certeiro que as pessoas não mudavam.  Podiam aprender novos comportamentos, mas a essência era sempre a mesma. Não queria forçar Quixote a fazer algo que ele não desejasse também. Ela perguntava a ele se se sentia incomodado fazendo tudo aquilo, mudando por ela, pra ela, e ele sempre sorridente dizia que não, que fazia de todo coração.
Claro que Alice ficava feliz ao ouvir aquilo, mas ao fundo vinha um pontadinha de culpa por ser assim tão exigente.
De qualquer forma, não podia negar que as coisas estavam indo muito bem. Quixote aparecia mais bonito a cada dia, com aqueles olhos de esmeralda cintilantes que tanto prendiam a atenção. E Alice, obviamente cada dia mais boba. Era uma delicia estar com ele, cada dia uma surpresa, uma novidade, um mundo novo...
Um dia desses, os dois conversavam no jardim tranquilamente. Já era noite, e tudo o que estava ao alcance deles era o cricrilar dos grilos e perfume das rosas... As rosas do mundo de Quixote!
- Posso lhe confessar uma coisa? – perguntou Quixote meio sem jeito.
- Claro o que quiser! – Alice olhou com interesse e sorria.
- Ando mais apaixonado do que nunca.
Alice corou. Se a luminosidade conseguisse fazê-la ser vista, ia ter se camuflado por entre as rosas de tão rubra que sua pele ficou.
- Jura mesmo? – Foi o que conseguiu dizer em um sussurro.
- Juro mesmo... – respondeu Quixote quase tão rosado de vergonha quanto ela.
E ficaram ali, juntos o resto da noite.
O que ele não sabia, é que ultimamente ela estava tão apaixonada quanto ele...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tremores

“Eu querer que você fique no meu mundo Quixote, é algo bom para nós, mas preciso que você me de motivos para ficar, consegue entender?”
Olhava pra ele com intensidade, fitando aqueles olhos verdes, tão profundos, que a encaravam.
A expressão de ambos estava séria e o clima estava tenso. Haviam estado juntos vários dias, discutindo sobre a fusão dos mundos, se daria certo ou não, e ao mesmo tempo em que se preocupavam com isso, esqueciam da vida, riam e se divertiam.
Não havia uma única vez em que Alice ficava ao lado de Quixote sem sorrir. Ele adorava arrancar sorrisos dela, e nunca, nunca mesmo, cansava de dizer o quanto ela era linda.
Entretanto, nos últimos dias, certas coisas foram pesando na vida de Alice. O mundo dela começou a girar depressa, entrava em colisão com o dele, o chão tremia e ela achava que não iria agüentar. Tinha muita vontade de fugir e se esconder.
Havia certas coisas entaladas na garganta, que ela sentia a necessidade de contar a ele... só não sabia como fazer isso. Quixote era sempre tão genioso, que era melhor prevenir qualquer tipo de discussão.
Mesmo quando ele dizia a ela: “você pode me contar o que quiser! Eu posso não gostar, mas eu vou entender! Você é assim, eu conheço o seu jeito, sei como você é e respeito isso”, ela ainda preferia não contar.
Uma vez, conversando com o chapeleiro, ele disse a ela algo que fez sentido: “Alice, você vai contar as coisas para ele, se ele fizer por merecer. Se ele conseguir conquistar este espaço, você irá contar tudo a ele, assim como conta pra mim. E devo ser sincero, não existe preço no mundo que pague essa confiança.”
Em uma noite dessas, outro tremor aconteceu. Forte. Tremia muito, muito barulho. O impacto foi tanto que até derrubou algumas árvores! Alice se desesperou em ver seu mundo cair...
Escondeu o rosto nas mãos e chorou. Muito. Soluçou.
Quando o tremor passou, Alice ainda chorava. Estava com medo e assustada.
“Será que isso vai dar certo?”, pensava com desespero. O ar faltava no peito e o coração estava disparado.
Quixote chegou mais ao fim da tarde, e vendo o estado de Alice ficou preocupado. “ O que foi Alice? O que você tem?”
Depois de muito esforço para se abrir com ele, conversaram. Aparentemente estava tudo resolvido.
Aparentemente.
No dia seguinte, aconteceu tudo de novo...

domingo, 15 de agosto de 2010



Durante todos esses anos de encontros e desencontros, de intrigas, de confusões, de brigas, de fazer as pazes e brigar de novo pra fazer as pazes outra vez... Algo dentro de mim gritava, berrava, urrava pedindo para que você ficasse sempre perto de mim.
Eu nunca entendi o que isso queria dizer... ou talvez não quisesse enxergar, eu não sei dizer.
Tudo o que eu sei, é que a minha necessidade de você era algo fora do comum, algo que me dizia “não o deixe partir”.
Você tem razão quando diz que eu choro sempre que você vai embora, por que eu chorei em todas elas... Todas.
Eu nunca consegui explicar por que não podia deixar você ir, mesmo eu dizendo milhões e milhões de vezes para que você fosse... Hoje fico feliz por você nunca ter me ouvido.
Pensando francamente, cheguei a conclusão que talvez, não era você que não estava pronto para mim, mas eu que não estava pronta pra você.
Hoje, finalmente nossos mundos se cruzaram, eu permiti a entrada do teu mundo no meu, eu me permiti ser feliz com você, com vontade e sem culpas...
Hoje, diferente do passado, eu peço novamente para que você não vá embora... Mas dessa vez, é por que eu quero que você fique nele.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010




Alice andava distraída pelo seu país, conversando  com o chapeleiro. Falavam sobre tudo, o tempo todo, o mais interessante é que nada dito por eles era considerado um absurdo por ambos, afinal, tudo era possível no país das maravilhas.
Enquanto caminhava, observou uma trilha desconhecida por entre as árvores.
- Você quer seguir por ela? – perguntou o chapeleiro
- Sinto vontade, mas não sei se deveria – retrucou Alice pensativa.
- Me diga porque quer entrar e saberemos então se vale a pena!
- Não sei, apenas sinto vontade, algo me instiga a saber o que tem ao fim da trilha – se é que ela tem fim!
- Ter vontade de algo já é um primeiro passo para queremos fazê-lo! Não é fascinante? Ter vontade de fazer alguma coisa é nada mais que fascinante para mim!
Alice sorriu ambiciosa por uns instantes e lançou um olhar afirmativo ao chapeleiro. Antes de mergulhar pela trilha, hesitou um instante. Será que deveria?
- Ora vamos cara Alice! – dizia o chapeleiro no auge de sua euforia, balançando as mãozinhas indicando que Alice fosse em frente.
Ela então respirou fundo e abriu um sorriso largo: - Te vejo depois! – E adentrou a floresta seguindo pela trilha curiosa.
Pelo caminho, haviam flores, muitas delas, principalmente rosas, vermelhas e triunfantes. Aquele cheiro delicioso que inundava as narinas fazendo que se houvesse cada vez mais vontade de ir em frente, de não parar! O coração estava sim disparado, um pouco de medo, ansiedade, mas que não deixava que seus pés parassem de caminhar.
Até que ouviu adiante um ruído. Parecia metal sendo polido, ou afiado, e quanto mais andava, mais o ruído aumentava.
Avistou algo brilhante depositado sobre uma pedra, e ao chegar perto, notou ser uma armadura. Brilhante e prateada, não havia como não parar para admirar.
- Engraçado – pensou Alice – o Glorian´s Day já foi há muitos meses, e que eu me lembre, minha armadura não era assim, e também não sei de mais ninguém que use uma armadura por aqui...
Então num susto, ouviu uma voz masculina as suas costas:
-Bonita não é?
Em um pulo e com o coração na garganta, Alice se virou tão bruscamente, que precisou se apoiar na pedra para não cair. Então avistou um homem, aparência tão jovem quanto a dela, loiro, olhos verdes, tão brilhantes quando emeraldas e sorria tão docilmente que não havia como retribuir.
- Quem é você? O que faz aqui?
- Não fica claro? – disse o jovem sorridente apontando a armadura com a ponta da espada – sou um cavaleiro andante!
- Cavaleiro? – Alice riu por uns instantes – desses que salvam donzelas em torres e coisa parecida?
- Ora, porquê não?
- Hmm... não sei porquê não estou surpresa...
- Talvez – disse o jovem ainda sorrindo – porque tudo seja possível quando você acredita...
Os dois se encararam por uns instantes. Era tão bom olhar aqueles olhos de esmeralda!
Como seria o nome dele? Será que era tão inteligente quanto aparentava? E onde ela estava afinal? Havia andado tanto que já não sabia se estava no seu mundo ou se tinha desviado para outro lugar qualquer...
- Gostaria de dar uma volta?
- Bem... porquê não? – Respondeu Alice num risinho desconfiado.
- Vamos Alice, você vai gostar...
- Como sabe meu nome?
- Existem muitas coisas que eu sei sobre você – e sorriu abertamentamente.
- Bem, e o seu nome, qual é afinal?
O jovem sorriu, olhou para o chão em busca de algo, apanhou uma rosa e entregando a ela disse:
- Muito prazer... Dom Quixote!

segunda-feira, 26 de julho de 2010





“Ei Alice... você gostaria de sair comigo esta noite?”
Nem consegui acreditar quando ele me convidou. Era fácil perceber ao telefone, que ele sorria do outro lado da linha, e eu também passei a sorrir, ainda mais, quando recebi seu convite.
Embora já tivéssemos saído juntos outras vezes, me senti ansiosa, da respiração mudar e da indecisão sobre qual roupa usar baterem em minha porta e ficarem comigo por uns instantes.
Ah claro, havia também o relógio! O maldito relógio do coelho, sempre parado, as horas não passavam nunca! Como ele tinha a audácia de me dizer que eu estava sempre atrasada quando na verdade nem batia?
Enfim, quando à hora chegou e ele apareceu para me buscar, estava lindo!
Parado, me fitando com aqueles olhos verdes, tão meus como sempre foram, as mãos nos bolsos da calça jeans, sorrindo levemente pra mim.
Impossível não retribuir o sorriso ou não baixar os olhos de vergonha. Mas eu estava feliz.
Então ele se aproximou de mim, e sem dizer nada, colocou uma mão em minha cintura e a outra passou em baixo dos meus cabelos me puxando levemente para ele e me dando um beijo. Doce e curto, mas que me diziam “você é minha esta noite”.
Após isso, sorri envergonhada para ele e o fitei por uns instantes.
Não havia a necessidade de palavras. Nos conhecíamos bem o suficiente pra entender e pra saber o que o outro pensava ou queria apenas por nossas feições.
Então, ele abriu a porta do carro para mim e juntos seguimos para a noite que nos aguardava.



quinta-feira, 8 de julho de 2010

           
  Ouvi um barulho e então comecei a averiguar o que poderia ser. Olhei primeiro ao redor, mas não encontrei nada, então tentei identificar o som para saber de onde poderia estar vindo. Eram suspiros atrelados a soluços, que se misturavam e silenciavam. Pequenos uivos, de dor talvez, acompanhavam todo esse embaraço. Identifiquei a direção, e cautelosamente andei tentando não fazer barulho quebrando algum galho ou passando pelas folhagens. Era fim de tarde e fazia muito sol, o que deixava o barulho dos galhos secos ainda mais altos à medida que estralavam enquanto eu pisava.
  Então, quando levantei uma grande folha de árvore, consegui ver, sentada sozinha em cima de um grande cogumelo, uma garotinha loira de vestido azul. Tinha as mãos levadas ao rosto, a cabeça baixa e parecia chorar. Dei uma leve tossida para informar minha presença, e assim que me levantou aqueles olhos amendoados, entendi que se tratava de Alice.
  Assim que me viu, levou um susto e não disse nada. Em seguida então voltou a esconder o rosto sobre as mãos e a chorar.

- Alice! O que aconteceu? Porque choras sozinha aqui, escondida?
- Não foi nada coelho, não há de ser. Só coisas que minha mente fértil cria pra me atormentar.
- Ninguém chora por nada Alice. Alguém a magoou?
-Não sei ao certo... mas acho que sim...
- Ora vamos Alice, o que fizeram de tão grave?
- Me fizeram acreditar que eu podia ter tudo, se eu batalhasse, poderia ter tudo o que quisesse, mas não é assim! Ele me enganou! Mentiu pra mim!
- Quem mentiu Alice?
- Ora, isso pouco importa! As pessoas mentem o tempo todo! Só não entendo por que ele faz isso comigo!
- O que Alice? O que ele faz?
- Mente! Diz que sou única, faz de tudo pra eu acreditar! Mas é tudo mentira! Eu sei que existe outra única na vida dele! E ele a defende com unhas e dentes!
- Está com ciúmes de alguém Alice?
- Estou magoada coelho... Não sei nem se tenho o direito de estar, mas existem tantas coisas em minha cabeça!
- Alice, Alice... Como diria o Chapeleiro: porque as vezes você é pequena demais, ou então grande demais?
- Sou como tenho que ser coelho, como o momento pede! E quando não sei como deveria agir me sinto pequena, triste, e choro, como agora.
- O que te deixaria feliz então?
- Sinto falta de algumas coisas... Coisas que me faziam sentir viva... Não sei como consegui-las novamente... A essa altura não sei nem se eu as quero novamente!
- Ah Alice... você está confusa. Gostaria de ficar só? Gostaria que eu a deixasse pensar?
- Acho que pensar é o que menos quero fazer coelho... o que menos quero fazer...
- O que gostaria de fazer então?
- Me conta de novo sobre quando caí no buraco e descobri que este era meu mundo?
- Claro Alice, claro... vou lhe contar...

quarta-feira, 23 de junho de 2010


A verdade é que eu continuo perdida.
A continuação dessa verdade, é que quanto mais eu me preocupo com os outros, mais eu me perco de mim, e se resolvo estacionar, isso me soa com tamanho comodismo de minha parte, que chega a me incomodar.
Eu não sei se o que tenho feito ultimamente é correto (embora eu faça porque tenho vontade), mas as vezes surge um mal estar, como se fosse errado, proíbido, e aí me invade uma sensação de culpa que me deixa
ainda mais atonita e só o que sei fazer, é chorar.
Queria encontrar respostas pras minhas perguntas, queria encontrar o caminho certo pra seguir, queria não ter que fazer escolhas.
Talvez eu esteja mesmo como a Alice quando encontra o gato, na cena em que ela diz que está perdida. Então o gato pergunta " onde você gostaria de ir?" e Alice responde "eu não sei". Então o gato contra ataca dizendo " se você não sabe pra onde ir, então qualquer caminho serve".
Acho que a situação é bem essa...
A verdade é bem essa...
Talvez eu esteja mesmo precisando me encontrar.
Só não sei como fazer isso...

sexta-feira, 28 de maio de 2010



Eu acredito no amor!
Amor de perto, amor de longe! Amor de todas as maneiras, todas as formas, todos os tamanhos!
Eu acredito na vida!
No que ela me trás, no que ela me mostra, em tudo que realiza e que transforma!
Acredito que a vida é uma vasta imensidão de sentir, de entrar em contato.
Da respiração acelerar, do coração fibrilar, da pele corar, aquecer!
Acredito que existe amor no inimaginável, que existe razão no inalcançável, acredito que existe paixão, existe desejo, vontade!
Acredito que existe sensação em todas as virtudes, que não existe comparação em todas as vivencias e que ao mesmo tempo existe relação!
Grandiosa e forte!
O que seria de mim se eu não acreditasse no gozo da vida, na plenitude do meu ser enquanto existência psíquica?
Acredito que mesmo sem te ver pessoalmente eu te amo, que mesmo sem te tocar, eu te sinto...
Sei disso pois de todas as formas você é belo, de todos os jeitos, existe em mim...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Eis-me aqui solta no mundo.
Vagando, procuro me encontrar.
Nas esquinas, debaixo das latas de lixo derrubadas, beirando o meio fio... onde estarei eu?
Pensei que tivesse me encontrado numa voz. Doce, aconchegante, tudo o que eu tinha.
Mas esta voz se foi tão facilmente como veio, e me deixou novamente a me procurar.
Cada melodia que canto no violão descrevo sobre mim, e faço de mim, verso...
Na completude, somo a lembrança de você, e descubro que eu não sou tanto eu assim...
E tenho a certeza que o que tenho de mim não me basta, não desamarra o nó que tenho sufocando a alma aqui no peito, tão maior que eu um dia poderei ser...
Eu quero mais, todo dia, mais de mim, mais de você, para que então eu possa ter um grande nós, e finalmente me encontrar...

sábado, 8 de maio de 2010

Eu choraria...



Tem dias que a gente sem porque precisa chorar.
Hoje, pra mim, é um dia desses. Eu sentaria e choraria.
Choraria muito, até acabar o fôlego, até os lábios ficarem roxos, até as pálpebras incharem, até a alma acalmar, e cansar.
Hoje eu choraria.
Eu choraria por mim e pela minha solidão. E embora me sinta só, não preciso do tipo da companhia de um amante. Mas o tipo de companhia dos amigos que eu não tenho aqui comigo.
Eu choraria pela fome das crianças no mundo e pela minha incapacidade.
Eu choraria de novo a morte da minha avó. Ainda dói. Lembrar vai doer pra sempre.
Eu choraria pelos animais abandonados e maltratados.
Eu choraria pelas pessoas sem lar.
Eu choraria pelos erros que eu cometi... pelos erros que eu deixei acontecer.
Choraria todos os meus arrependimentos.
Choraria pelo meu egoísmo, por às vezes só conseguir pensar em mim.. Mesmo sendo necessário de vez em quando.
Choraria todas as minhas dúvidas.
E depois disso tudo... eu deitaria exausta, abraçaria o travesseiro e dormiria pra esquecer...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Uma coisa que sempre me fez parar pra pensar, é porque quando algo na vida das pessoas não sai como elas gostariam, elas colocam a culpa em Deus ou em quem quer que seja, menos nelas mesmas.
Obviamente que isso não ocorre em 100% dos casos, mas na grande maioria, o que eu considero um tremendo egoísmo.
As pessoas criam expectativas de coisas que não tem garantia, e quando se atropelam pra conseguir, perdem os objetivos de realização daquilo, e então tudo se perde e obviamente dá errado.
Deus não tem nada haver com isso. Ele não tira coisas de você pra “te dar” coisas melhores. Ele te mostra caminhos. Quem escolhe qual caminho seguir, é você mesmo. Sem falar nessa concepção mesquinha de melhor ou pior. Eu acredito que cada pessoa tem aquilo que merece ter.
Se você se frustrou, você tem todo o direito de ficar triste, magoado, afinal temos sangue nas veias, correto?
O que eu discordo, é fazer outras pessoas sofrerem com isso também. Você por estar mal não tem o direito de fazer outrem se sentir mal da mesma maneira que você. É preciso saber sofrer, incrivelmente, senão se perde a razão e acaba virando mesquinhez, pura infantilidade.
Eu nunca fui do tipo de pessoa que pensa mais em mim do que nos outros, na verdade sempre foi o contrário e quem me conhece sabe disso. Acho um tremendo egoísmo sair metralhando palavras ao vento, atingindo-me pela tangente, sendo que seria melhor (e mais adulto) uma conversa franca.
O que eu faço, nunca faço pensando somente em mim. Eu analiso o contexto, o todo.
Não quero briga, não quero transformar nossas vidas em um ringue de indiferença, de mágoa, como vem acontecendo comigo pelo menos.
Acredito que tudo que vivemos valeu sim muito a pena, e eu gostaria de poder lembrar sem ter ressentimentos...
Não peço que me de razão. Se você não me entende obviamente não me dará.
Eu peço apenas que respeite meus motivos, assim como respeito os seus.
E só.



sábado, 10 de abril de 2010





“Eu não agüento mais, preciso ir embora... mas eu tentei, você viu como eu tentei, e também estou chorando agora... mas eu preciso partir...”
Foram as palavras que ele me disse antes de me empurrar num poço escuro... em um mergulho sem volta.
Entrei em choque. Congelei. Parei de respirar. E como numa explosão inesperada entrei em pranto, lagrimas misturadas com um sufoco enorme, sem tamanho...
Por muito tempo, vivíamos e nos completávamos, era como música, como perfeita simetria... Às vezes em tons mais agudos, às vezes em sustenidos mais graves em tons de ameaça, às vezes uma continua melodia, num encaixe perfeito.
Aqueles olhos verdes que me fitavam, como um anjo eu sabia que de onde quer que fosse ele ia estar olhando por mim, olhando pra mim, cuidando de mim...
Mas havia acabado... ele havia me dito que não agüentava mais, que tudo o que havia feito por mim era em vão... Ele questionou se eu seria capaz de fazer por ele tudo o que havia feito por mim, e que havia sido por todo esse tempo um otário na minha mão...
Uns dias atrás, meu peito estava sufocado com a partida de meu pai... e como um anjo ele veio novamente me ouvir, me aconselhar... e hoje, vejam só... quem parte é ele..
Será que volta?
Será que eu merecia ouvir tudo o que você me disse?
Será que eu devo acreditar em tudo o que você me disse?
Devo guardar nossa história num baú? Devo colocar juntamente nossos sorrisos?
Eu também não sei pra onde seguir agora, também não sei o que fazer, sei que me sentia mais segura com você perto...
Uma vez eu questionei: “se eu não servir como sua namorada, também não sirvo como nada mais?”
Você sorriu sem graça e disse: “Claro que não, o que me importa é ter você perto... você é a parte mais bonita em mim...”
Hoje você mata tudo isso...
Sim, você me magoou, me feriu... matou um pedaço de mim, jogou no chão, chutou e pisou...
Você matou a beleza que eu enxergava nas coisas, no mundo... nos teus olhos.
Hoje todas as flores morrem, e eu, tola que sou, insisto em acreditar que talvez os dragões sejam apenas moinhos de vento...

domingo, 4 de abril de 2010

As vezes fico me perguntando o que leva um homem, no auge da vida, aposentado, com esposa e filhos, a procurar por um caminho que o leve para longe...
Meus questionamentos giram em torno de saber aonde falhamos... Como deixamos que se sentisse assim, tão incompleto a ponto de precisar ir embora para poder se encontrar...
Seria muito absurdo de minha parte pensar que seria muito egoísmo deste homem a ponto de pensar em sua felicidade e não na das pessoas que deixa para trás? Ou seria egoísmo de minha parte não deixá-lo partir para que seja feliz distante...
Este mesmo homem que decide partir sem pedir opinião... que mesmo sendo lhes dada milhares de sugestões para que continuasse perto, ele insiste em ir embora...
Será que o amor acabou? Este amor que ele insiste em dizer que sente?
Não sei como encaixo isso em minha cabeça, como compreendo a visão de vida que este homem tem, pela busca do que lhe falta, e que sua esposa e filhas certamente não conseguem suprir... Mas o sentimento de incapacidade que fica é muito grande...
Ver um pai partir... arrumar suas malas, sair pela porta sem saber quando volta, em busca do caminho da felicidade, abandonando tudo, dói demais...
A sensação que eu tenho é exatamente essa, de estar sendo abandonada por alguém que não percebe o que está fazendo.
Ver meu pai insistir em algo que sei que não é o melhor para ele, parte meu coração... Permitir que parta sozinho, sem ninguém para cuidar dele enche meu coração de agonia, tristeza e preocupação...
Até quando será necessário aturar isso? Será necessária uma inversão de papeis e permitir que cometa um erro enorme pra entender o porquê insistíamos tanto que não fosse embora?
Espero do fundo do meu coração que se ele decidir por vez ir mesmo, que ele seja feliz.
Mas o sentimento de abandono é muito grande, por todo o contexto que possuí, e a única pergunta que fica é: Aonde erramos?

terça-feira, 16 de março de 2010

O sábado passou devagar.
Levantou cedo como de costume, trocou de roupa, pegou seu material e seguiu pro inglês. A aula passou devagar. Era incrivel como cronometradamente olhava pro relógia a cada 10min parecendo que já tinham se passado 50! A aula acabou, pegou um taxi e voltou pra casa, comeu alguma coisa e correu pro MSN. "Ué, cade ele?"
Esperou. Sentia uma saudade enorme, algo que aumentava cada vez que lembrava do seu nome, do seu cheiro, do seu rosto. Algo que parecia inflar sem controle. Uma ansiedade corroía a alma, insistia em deixar os pulmões com dificuldade de respirar. E ele não aparecia. Descobriu que havia ido jogar bola, como sempre fazia e resolveu ir dormir. Ou pelo menos tentar. Estranho não falar com ele uma única hora do dia. Talvez estivesse mesmo ficando mal acostumada. Ao fim da tarde, voltou ao MSN, e ele veio correndo falar com ela. Correndo mesmo, afinal, já estava de saída para outro compromisso. Combinou que telefonaria, disse pra ela ficar esperta com o telefone. "Tudo bem, pode deixar..."
E ficou ali... lendo notícias chatas, sem falar com ninguém legal, brigando com o relógio de novo... A hora que ele havia dito que ligaria chegou... Chegou e passou, porquê ele não telefonou.
Ela então, resolveu ir tomar um banho, aliviar a alma, refrescar a cabeça... talvez ele tivesse mesmo um bom motivo.
Ao retornar, reparou que no celular havia uma chamada não atendida dele, e uma janelinha piscava ativamente na tela do seu computador. Então finalmente ele havia resolvido aparecer. Combinou com ele a hora em que ele viria busca-la e foi acabar de se arrumar.
Mas o clima já era outro. Se sentia estranha, o peito apertado... angustiada talvez?
Ele chegou, todo feliz, sorridente. Ela o cumprimentou já sem o mesmo entusiasmo. Conversaram e foram a um lugar mais badalado. Ficaram na sacada, estava quente, lá parecia ser o lugar ideal.
Ele tentava se aproximar, beijava-a, tocava-a... ela retribuia sem a mesma intensidade.
Então ele notou que havia algo errado.
- " O que foi amor?"
- " Nada..."
- " Ah para... fala pra mim... O que foi?"
Ela parou... suspirou e disse:
- " Você sumiu o dia todo...que horas você disse que me ligaria?"
Ele ficou sem graça, baixou os olhos...
- " É.. você tem razão..."
Um instante de silêncio.. A chegada de alguém inesperado. Alguém que ele já havia ficado.
"Ótimo!" - ela pensou. - " Só o que faltava pra acabar de completar a noite..."
Ele viu a outra, la de cima da sacada. Depois, virou dando as costas a ela e olhou nos olhos da companheira: " Não tem com o que se preocupar... é você que eu quero..."
Ela riu sem graça, com ciúme, com medo, com raiva... Tanto tempo sem aparecer naquele bar, e olha só... Mas ela já havia prevido... tinha certeza.
Mais um instante se passou, ela o abraçou forte, conversaram alguns instantes. Até que ele virou pra ela e disse: " Eu te Amo..."
Era mais do que ela precisava saber...