domingo, 31 de julho de 2011



Alice estava sentada no galho de uma árvore admirando as estrelas. A noite estava fresca, propícia para ser admirada. Quantas estrelas tinha o céu, e como brilhavam! Tão reluzentes quanto os olhos de Quixote.
Haviam passado bons dias, estavam em sintonia novamente, total e plena, envolvidos em uma completude de dar inveja! Nada mais importava, apenas eles mesmos, e naquela ocasião, o céu e suas estrelas.
Quixote escalou até o galho onde Alice estava e se sentou ao seu lado. Tocou de leve sua mão e ela retribuiu com um sorriso leve.
- Nenhum brilho delas se compara ao seu – disse Quixote olhando pra ela fixamente.
Alice corou e riu – Todo bobo...
- Tenho direitos tá? Estão no nosso contrato!
- Contrato? Que contrato? Não me lembro de nenhum...
Quixote ria com a inocência de Alice e ela parecia gostar da brincadeira. Apesar de viverem em um mundo completamente diferente, conseguiam criar mais mundos dentro deste mesmo mundo. Coisa de Alice e Quixote.
Entretanto, de repente, Alice desfez o sorriso devagar e sua face pareceu preocupada, até mesmo triste. Fitava os pés e a altura a qual estava. Quixote percebendo, tocou novamente sua mão e a olhou seriamente, como se esperasse uma explicação.  Alice no entanto, apenas o olhou nos olhos e dando um sorriso triste, voltou a olhar para os próprios pés.
- O que foi? – Indagou Quixote preocupado.
Alice não respondeu, mas deixou escapar pesadas lágrimas. Tentou enxugá-las com rapidez, mas a luz da lua iluminou seu rosto de relance acusando a Quixote que ela chorava.
- O que foi Alice? Não vai me contar por que chora?
Alice continuou em silêncio.
- É por que vou embora?
Alice apenas suspirou.
- Eu também queria ficar, ou melhor, queria levar você comigo.
- Queria que você ficasse, queria ir com você. Não pode mesmo ficar?
- Estou fazendo o possível para isso...
Mais algumas lágrimas pesadas rolaram. Não havia o que pudesse ser feito, estava fora de alcance. Até poderia parecer um exagero tendo vista que o mundo de Quixote era vizinho do de Alice, mas só quem sente sabe o quanto dói uma saudade. ..

terça-feira, 5 de julho de 2011






Alice andava chateada. Os tremores, aqueles malditos tremores que pareciam não passar nunca! Acalmavam durante alguns dias, mas depois vinham com o dobro de força e tudo o que Alice reconstruía enquanto ele cessava, tornava a ficar destruído. Aquilo tudo estava mesmo muito cansativo.
Quando não agüentava mais, chorava igual criança pequena e ficava aos soluços. Depois tinha sonhos esdrúxulos quando adormecia, e acordava aos pulos de madrugada, sem ninguém pra abraçar. 
E quando vinham os pesadelos então?!
Pra esses, ela nem precisava dormir. Eles estavam por toda a parte, vinham aos montes, às vezes mais de um ao dia, o que só a deixava ainda mais cansada.
Tudo o que ela queria era alguém que percebesse seu estado, a abraçasse forte e a fizesse se sentir segura. Mas talvez, isso fosse pedir demais...
A verdade é que no fundo ela estava só, e sabia disso. Talvez fosse necessário alguém que realmente a conhecesse, que soubesse lidar com ela, com seus imprevistos.
Alice é uma garota imprevisível. Não é para qualquer um.
Entretanto, pecava ao criar expectativas demais sobre as pessoas. Principalmente sobre aqueles que ela mais amava.
Amar não é fácil. Amar é se permitir fazer sofrer pelo outro e ainda assim continuar amando.
Mas às vezes, pairava a duvida: Será que valeria a pena tanto sofrimento?
Talvez fosse necessário alguém que estivesse na mesma sintonia que ela, alguém para compartilhar idéias, alguém que não fosse necessário se explicar sempre...
Um querer difícil...
Complicada como ela, querer alguém com estes atributos, era realmente, querer demais...
- “O sofrimento é certo para mim. Será eterno. Eu não me contento com o pouco e ainda busco o inimaginável. Achei tê-lo encontrado uma vez, mas agora parece que se perdeu, que não fala mais a mesma língua que eu. Só sabe me fazer promessas vagas... Sei que sou exigente, quero demais, exijo demais, vivo demais. E se isso me fizer viver com a solidão, então que ela venha e me lamba a face mais uma vez. Talvez ela seja mesmo a minha melhor amiga, meu cão guia... Ela não me promete nada! Quando quero alguém pra conversar, ela está lá... Para sair? Ela está lá. Para chorar? Ela está lá. Tal qual a morte, surda, que me ronda dia a dia, e eu não sei a hora que virá me beijar...”