terça-feira, 2 de novembro de 2010

Finados



Quando minha avó faleceu, acho que foi um dos dias mais tristes da minha vida. Me lembro como se fosse ontem o que eu fazia, quando recebi o telefonema da minha mãe, que estava no hospital com ela enquanto a cirurgia acontecia – e dava errado.
O mundo desabou. Sabe a sensação de perder o chão? Pois foi exatamente assim. Uma mistura de não acreditar, com duvidar, com ter certeza, com não saber o que fazer.
Me lembro de tudo que aconteceu depois. Me lembro de forçadamente trocar a roupa colorida que eu usava para um preto fúnebre. De receber minha mãe em casa e não saber como ampará-la, pois eu não conseguia nem amparar a mim mesma.
Quando chegamos ao cemitério, todos juntos, e seguimos o caixão até o centro da sala para o velório, e ele foi destampado, nunca vou esquecer do desacreditamento da minha mãe quando disse “ ai... é você mesmo..”
Minha avó estava linda. Usava uma roupa de festa que ela mesma havia separado, pois dizia que queria entrar no céu linda, com festa.
Fico pensando o tanto que ela sofreu quando viva. Sofreu a vida inteira.
Lembro da última vez que a vi viva no hospital. Olhava pela janela, o céu nublado escuro, e tinha a visão longe. Até tentei puxar alguma conversa, mas ela não respondia. A sala de UTI é muito triste.
Depois de algum tempo com ela, ela disse “ cadê sua mãe?”
Então eu disse que iria chamá-la. Eu não sei como, mas de alguma forma eu sabia que seria a última vez que a veria com vida. Decidi ceder ao desejo dela de ficar com minha mãe. Saí da sala chorando muito. Entrei no elevador chorando, e lá encontrei com um enfermeiro que ficou completamente perdido ao me ver daquele jeito.
Quando cheguei ao térreo, meus irmãos e minha mãe se assustaram com meu comportamento. Diziam pra eu ficar calma, que tudo ia dar certo. Queria saber da onde tiravam tanta confiança.
Minha mãe se apegou muito mais a Deus. Quando estávamos indo de carro até o hospital, tocava no rádio uma música da Kelly Osbourn que dizia “ Yeah, yeah, God is great, yeah, yeah, God  is good”.
Ironia do destino talvez?
Eu não sei. Sei que fiquei com muita raiva dele depois que minha avó morreu.
Hoje em dia, penso diferente. Apesar de todo sofrimento de minha mãe, e do restante da família, a morte pra minha avó veio como um alívio.
Um alívio de todo sofrimento que ela foi obrigada a viver.
Descanse em paz vovó.

Um comentário:

Tiago disse...

Triste,mas infelizmente esse é o ciclo da vida,um ciclo de nascimento,crescimento e um fim inevitável de morte,fico feliz pelo amor e carinho que você sempre se lembra da sua avó,isso a mantém viva ao menos em sua memória e certamente no seu sorriso.